
São essas coisas que os meus versos amam e
exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a
todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde a
infância no mundo mais elementar.
Guardo desse tempo o gosto por uma
arquitectura extremamente clara e despida, que os meus poemas tanto se têm
empenhado em reflectir; o amor pela brancura da cal, a que se mistura
invariavelmente, no meu espírito, o canto duro das cigarras; uma preferência
pela linguagem falada, quase reduzida às palavras nuas e limpas de um
cerimonial arcaico – o da comunicação das necessidades primeiras do corpo e da
alma. Dessa infância trouxe também o desprezo pelo luxo, que nas suas múltiplas
formas é sempre uma degradação; a plenitude dos instantes em que o ser mergulha
inteiro nas suas águas, talvez porque então o mundo não estava dividido, a luz
cindida, o bem e o mal compartimentados; e ainda uma repugnância por todos os dualismos,
tão do gosto da cultura ocidental, sobretudo por aqueles que conduzem à
mineralização do desejo num coração de homem.
A pureza, de que tanto se tem
falado a propósito da minha poesia, é simplesmente paixão, paixão pelas coisas
da terra, na sua forma mais ardente e ainda não consumada.