«As nuvens por cima de terra
erguiam-se agora como serranias, e a costa era apenas uma longa linha verde com
os montes azul-cinzentos por detrás. A água era agora de um azul-escuro, tão
escuro, tão escuro que era quase púrpura. Ao olhar para o interior das águas
via o vermelho peneirar do plâncton nas águas sombrias e a estranha luz que o
Sol fazia. Observava as linhas, para vê-las sumir-se da vista pela água abaixo,
e sentia-se feliz por ver tanto plâncton, o que significava peixe. “
O
velho e o mar publicado em 1952 é um dos
livros marcantes do século XX e da obra de um grande escritor, Ernest
Hemingway. Santiago, velho pescador desafia-se a si próprio para compreender o
mar, os peixes e o modo como os encontrar. Desafio tornado essência de vida, no
combate entre o pescador e um peixe enorme, um espadarte, numa luta difícil em
que qualquer desfecho resultará sempre na perda do outro.
O velho e o maré uma aventura poética,
sobre-humana de luta pela sobrevivência, de vitória sobre o perigo, ainda que dessa
vitória se perca tudo. O velho e o mar coloca em confronto a natureza e a
humanidade, revelando a dignidade desses dois mundos, as suas características,
a sua beleza, mesmo que rodeada de perigos sublimes. O velho e
o mar descreve essa luta de superação das próprias forças, a
do pescador, a de um pessimismo céptico pelo que não seja experimentado e a
solitária luta individual.
O velho e o mar oferece-nos uma leitura sobre esse confronto – natureza e
homem. O mar surge-nos com a sua grandiosidade natural e o homem na dimensão
mais elevada das suas possibilidades, numa luta pela sua sobrevivência. Luta
feita de um conhecimento aprendido e que revela no episódio do pássaro que não
conhece os falcões, essa ideia um pouco pessimista, ou talvez só realista, que
o não experimentado, não é conhecimento.
É ainda um
livro sobre a dignidade e majestade da luta humana, mas também das águas e dos
seus habitantes graciosos, ainda que ferozes e combativos e dessa ignorância
dos que passam e não compreendem – os turistas. Tudo no livro é composto pela
ideia de dignidade, a do mar e da sua força, do homem e da sua experiência para
sobreviver, do rapaz que acolhe o velho nas suas dificuldades e este que sonha,
como última e definitiva possibilidade.
O velho e o maré um livro de uma
linguagem muito descritiva, cheia de cores e cheiros, uma escrita fotográfica
com os rios de emoções numa luta essencial – ver e pensar o mundo.
O
velho e o mar / Ernest Hemingway. Porto: Porto
Editora: 2015